Assisti em uma reportagem. Fiquei emocionado pelo significado
profundo. Um professor de educação física
de uma pequena escola municipal em Ponta-Porã decidiu
tomar em suas próprias mãos a responsabilidade
de mudar a vida de seus alunos, e assim o fez.
Não tendo uma quadra para treinar, usou do tempo de
aula para, junto com seus alunos, carpir uma quadra, improvisada
ao lado da escola. Usaram uma porta velha, cortada ao meio,
para fazer as tabelas. Comprou os aros e as redes. Estava
pronta a quadra. Sem ajuda do prefeito, sem conhecimento do
governo, do padre ou da imprensa. Estavam prontos os corações,
a parte mais importante.
Seus alunos perceberam que cabia a eles acreditar na possibilidade.
Não esperar pela melhor situação. Não
esperar, lamentando a demora de quem seria “responsável”.
Perceberam que eles mesmos eram responsáveis por “carpir”
no sentido de abrir caminho entre os espinhos. “Capinaram”
o mato do seu caminho. Construiram seu caminho. Não
usaram o outro sentido possível do verbo “carpir”:
não lamentaram ou choraram a sorte, como tantos o fazem.
Eles fizeram o que era preciso, encararam a situação,
venceram as dificuldades e hoje são campeões
de basquete da cidade, do estado talvez, não sei bem,
mas, com certeza, são campeões da vida, o que
vale muito mais que os títulos e troféus.
Vendo ali, orgulhoso na TV, aquele professor simples com seus
alunos felizes, jogando ao redor de seu ídolo que os
visitava, o nosso caro Oscar Schmidt, lembrei das palavras
de Gandhi: “qualquer coisa que você fizer será
insignificante, mas é muito importante que você
faça a sua parte!” O próprio Oscar disse
algo semelhante durante a reportagem: “esse professor
não pode mudar o Brasil, mas com certeza ele conseguiu
mudar a vida ao seu redor. Seria bom se todos os brasileiros
fizessem isso!” Um momento bom, que reacende o orgulho
do país e a esperança em nosso povo. Um momento
que me fez acreditar uma vez mais.
E você? Será que está “fazendo a
sua parte”, ajudando a “carpir” caminhos?
Ou será que está “carpindo” a sorte
esperando que alguém faça algo por você?
Muita coisa para fazer no dia-a-dia? Pare um instante. Olhe
bem para você. Veja as suas limitações.
Compare com as limitações de tantas outras pessoas.
Você já assistiu a uma competição
de pessoas com necessidades especiais? Como você se
sente? Sente-se capaz de competir com eles e vencer? Não
estou falando de nadar ou correr mais rápido. Estou
falando na coragem de estar ali. Juntar todas as suas forças
e acreditar que, apesar de todas as suas limitações,
existe uma possibilidade. E assim, existindo essa possibilidade,
dedicar-se de corpo e, principalmente, alma para vencer. Não
para chegar na frente dos outros, mas para vencer seus medos
e chegar…também.
É isso que eu vi naquele professor de Ponta-Porã
e seus alunos de basquete: a coragem de acreditar e fazer
sua parte.
Hoje os dias podem ser difíceis. Hoje talvez você
esteja se sentindo triste e impotente perante aos grandes
problemas que enfrenta. O que eu gostaria de lembrar é
que tudo passa um dia. Vivemos em uma pequena casca em torno
de um lindo planeta azul. Nos prendemos muito a nossa curta
visão, ao nosso pequeno horizonte. Visto do espaço
percebemos que o “horizonte real” na verdade não
existe. Existe um universo além da nossa pequena casca
ao redor do planeta. Assim, não se prenda ao seu problema.
Sonhe e acredite muito além dele. Tenha certeza que,
se você acreditar nas suas possibilidades acima das
suas limitações, você sempre poderá
contar com uma ajuda imbatível. Tudo da mesma forma,
simples e natural, como eu pude ler em uma mensagem escrita
em uma barraca de frutas de beira de estrada outro dia: “Diga
ao seu Deus do seu grande problema, mas também diga
ao seu problema do seu grande Deus!”
Marcos
Pontes
Colunista,
professor e primeiro astronauta profissional lusófono
a orbitar o planeta, de família humilde, começou
como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP),
para se tornar oficial aviador da Força Aérea
Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder
de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica
e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado
pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA). |